Por Marcos Adami – Bikemagazine
As bicicletas são utilizadas nas guerras desde o final do século 19. Os exércitos das nações europeias e dos Estados Unidos as adotaram como uma alternativa viável e econômica no deslocamento dos soldados de infantaria. Um novo modelo de bicicleta criado pelo engenheiro britânico Henery J. Lawson, em 1876, com duas rodas do mesmo tamanho e tração traseira, substituiu rapidamente as primitivas bikes do tipo “Shake Bones”, com tração na gigantesca roda dianteira. O invento de Lawson, aos poucos, foi ganhando importância nas fileiras dos exércitos e até mesmo substituindo os cavalos em algumas missões.

A primeira notícia que se tem da utilização da bicicleta como veículo militar foi durante a guerra de independência da África do Sul, em 1896, na época uma colônia britânica.
MIL E UMA UTILIDADES

Com todas essas qualidades, não é em vão que as bicicletas estiveram presentes em praticamente todos os conflitos importantes da história desde quando foi inventada. Elas foram à luta na I e na II Guerra Mundial, na Guerra da Coréia, na revolução chinesa, na Guerra do Vietnã e ainda são vistas no front do Iraque, no Sri Lanka e no Afeganistão. Nas grandes cidades, muitas forças policiais utilizam a bicicleta como uma poderosa ferramenta de patrulhamento.
BUFALO SOLDIERS
Em 1896, o tenente James A. Boss liderou um grupo formado por 20 soldados, um médico e um repórter que pedalou do Forte Missoula, no estado de Montana, até Saint Louis, no Missouri, por trilhas que seguiam basicamente paralelas aos trilhos da ferrovia Northern Pacific. A jornada de 41 dias e 3 mil quilômetros cruzou cinco estados e serviu como um teste para avaliar a viabilidade do uso militar da bicicleta no exército americano. Os soldados liderados por tenente Boss eram negros e ficaram conhecidos como “Bufalo Soldiers” da 25º Batalhão de Infantaria Ciclística. O feito ganhou as páginas dos jornais de Missoula e dos Estados Unidos e, conta-se, sua chegada em Saint Louis foi saudada por um público de 10 mil pessoas. Um ano após a viagem, os Bufalo Soldiers provaram seu valor como guerreiros e asseguraram vitórias importantes na guerra contra os espanhóis.

A primeira notícia do uso da bicicleta em combate foi com os britânicos e suas bicicletas dobráveis Dursley-Pedersen, na Guerra dos Boeres, na África do Sul, em 1899. As bikes Dursley-Pedersen eram fabricadas na Inglaterra, na cidade de Dursley, em Gloucestershire, pelo engenheiro e inventor dinamarquês Mikael Pedersen, e tinham um design bastante esquisito, mesmo para a época.

Em 1937, durante a invasão da China, o Japão empregou 50 mil soldados ciclistas.
Durante a segunda guerra mundial, até a pacífica Finlândia empregou extensivamente as bicicletas da 1ª Brigada Jaeger na luta contra a Alemanha nazista e a Rússia. A Suécia mantinha seis regimentos de cicloinfantaria que duraram até o ano de 1952. As bikes militares suecas modelo m/42 – as militärcykel - foram produzidas por diversos fabricantes e fizeram tanto sucesso que, em 1997, a marca Kronan produziu algumas bikes a pedido dos fãs.
Os paraquedistas britânicos utilizaram o modelo dobrável da marca BSA (Birmingham Small Arms), famosa pelas suas motocicletas. A BSA Airborne foi utilizada em várias operações nos teatros de guerra da Europa continental, no Mediterrâneo e participou do desembarque na Normandia no Dia D.

Por ser uma opção econômica e popular de transporte, as bicicletas desempenharam papel importante em diversos cenários de conflitos. No final da década de 60, as bicicletas foram largamente empregadas na Guerra do Vietnã (1959-1975) e tiveram papel fundamental no abastecimento das tropas do exército norte-vietnamita pela lendária e montanhosa trilha Ho Chi Minh. Com quadros reforçados em oficinas de fundo de quintal e carregadas com até 180 kg de víveres, armas e munições, as bicicletas eram praticamente os únicos veículos que faziam o transporte de suprimento entre o Vietnã do Sul e do Norte pelo improvisado caminho que avançava pela selva dos países vizinhos Camboja e Laos. Naquelas condições, a “Arma do Povo”, como eram chamadas as bicicletas, eram impossíveis de serem pedaladas e eram empurradas no ritmo de pedestre. Em outros conflitos mundo afora, as bicicletas também foram o meio de locomoção usado por muitas levas de refugiados que optaram pela bicicleta como a única forma de escapar da zona de guerra.
MONTAGUE PARATROOPER

Desde 1997 a empresa americana Montague Corporation fornece bicicletas para as forças armadas dos Estados Unidos. O lema do fabricante é “The First to Hit The Ground”, ou seja, a primeira que chega no chão. O modelo Paratrooper dobrável foi desenvolvido para ser aerotransportado. A bike é empregada por várias forças dos EUA em vários conflitos, inclusive no Iraque.
A Montague Paratrooper tem aro 26” e o sistema dobrável foi desenvolvido em parceria com o exército para ser montada em menos de 30 segundos. Quando dobrada, a bike mede apenas 90 x 70 x 30 cm e o peso é de 13,5 kg. O quadro é de alumínio 7005 pintado na cor verde oliva. Tem suspensão, freio a disco e vem com grupo Sram de 24 marchas. A bike é comercializada também no mercado civil com preços que variam de 700 a 2.500 dólares, dependendo da configuração.
CONDOR FAHRRAD 93

A robusta Condor Fahrrad 93 foi o último modelo utilizado pelo exército suíço. O quadro é feito de aço e pesa 21,5 kg. Vem com bagageiro dianteiro e traseiro e pode transportar até 60 kg de carga, incluindo arma antitanque. Os freios são Magura hidráulicos e atuam diretamente sobre o aro. O câmbio traseiro Shimano XT tem sete velocidades e o cubo dianteiro tem um dínamo embutido. Atrás do tubo vertical há uma enorme caixa de ferramentas e uma bolsa entre os tubos do quadro serve para transportar roupas. Opcionalmente, a bike pode rebocar um trailer.
BIKES DA PAZ
Há cerca de três anos, a versatilidade das bicicletas foi aplicada também nas missões de paz da ONU e já servem de meio de transporte para os soldados do 32º Regimento do Exército Territorial Britânico, unidade subordinada ao exército regular britânico formado por civis e voluntários. Esses soldados da paz utilizam mountain bikes no patrulhamento das zonas desmilitarizadas controladas pelas ONU Unidas em Chipre.

“Bikes são ideais para patrulhas. Elas são silenciosas e causam menos provocação, diferente de soldados que usam veículos militares. Com elas captamos mais detalhes de situações do que quando estamos no interior de veículos e ao mesmo tempo cobrimos uma área maior do que quando estamos a pé”, explicou o major Thompson.
TABELA DE COMPARAÇÃO DE EFICIÊNCIA
www.militarybikes.com/comparison.html

Temos ainda algumas fotos interessantes:
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